Carta do então cardeal Joseph Ratzinger, em 1985, reforça denúncias de que o atual papa não buscava a punição de religiosos envolvidos em casos de abuso sexual. Vaticano preferiu não se pronunciar sobre o conteúdo do documento
Uma carta datilografada em latim, datada de 6 de novembro de 1985 e com a assinatura do então cardeal Joseph Ratzinger, reforça as acusações de que a alta cúpula do Vaticano preferia encobrir os casos de desvios sexuais dos seus subordinados. O documento, obtido pela agência de notícias Associated Press, desmonta a versão apresentada pela Santa Sé de que o atual papa Bento XVI não bloqueou a remoção de padres pedófilos na época em que era responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé.
"É preciso tomar o máximo de cuidados paternais que for possível"
Joseph Ratzinger - Papa Bento XVI
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Uma carta assinada pelo papa Bento XVI, com data de 1985, quando ainda era cardeal, revela que ele sabia das acusações contra um padre da Califórnia acusado de abusar sexualmente de crianças. Mas ao invés de afastar o religioso, ele preferiu manter o crime encoberto
Escândalo com assinatura
Carta do então cardeal Joseph Ratzinger, em 1985, reforça denúncias de que o atual papa não buscava a punição de religiosos envolvidos em casos de abuso sexual. Vaticano preferiu não se pronunciar sobre o conteúdo do documento
Uma carta datilografada em latim, datada de 6 de novembro de 1985 e com a assinatura do então cardeal Joseph Ratzinger, reforça as acusações de que a alta cúpula do Vaticano preferia encobrir os casos de desvios sexuais dos seus subordinados. O documento, obtido pela agência de notícias Associated Press, desmonta a versão apresentada pela Santa Sé de que o atual papa Bento XVI não bloqueou a remoção de padres pedófilos na época em que era responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé. "É preciso tomar o máximo de cuidados paternais que for possível"
Joseph Ratzinger - Papa Bento XVI
Na carta, que integra correspondência trocada entre a diocese de Oakland (nos Estados Unidos) e o Vaticano, Ratzinger resistia aos apelos para suspender um padre da Califórnia suspeito de abusar sexualmente de crianças. O futuro papa alegava que qualquer decisão de afastar o religioso deveria levar em linha de conta "o bem da igreja universal", e "o prejuízo que a suspensão poderia vir a ter na comunidade dos fiéis de Cristo, particularmente considerando a juventude". O padre em questão, Stephen Kiesle, tinha na época 38 anos. Ele só removido do sacerdócio em 1987. Em 2004, Kiesle foi julgado por 13 acusações de abuso sexual sobre menores e condenado em 2004 a seis anos de prisão.
O porta-voz do Vaticano, padre Frederico Lombardi, confirmou que a assinatura na carta era mesmo de Ratzinger, mas se recusou a comentar o conteúdo do texto. "O gabinete de imprensa não considera necessário responder a todo e qualquer documento, retirado do seu contexto, relativamente a situações legais particulares". Ele disse ainda que "não é estranho que existam documentos isolados com a assinatura do cardeal Ratzinger".
A investigação sobre a conduta do padre Stephen Kiesle teve início em 1981, quando a diocese de Oakland recomendou ao Vaticano que ele fosse removido do sacerdócio. O caso ficou parado na Congregação para a Doutrina da Fé até que o cardeal Joseph Ratzinger respondesse ao bispo norte-americano John Cummins.Na mensagem, o futuro papa Bento XVI dizia que os argumentos para a remoção de Kiesle teriam que ser "muito poderosos", porqueuma ação deste tipo necessitaria de "um exame muito rigoroso e de mais tempo". No texto, o cardeal ainda exortava que o bispo providenciasse ao padre Kiesle "o máximo de cuidados paternais que for possível", enquanto se aguardasse pela decisão.
Kiesle havia sido sentenciado em 1978 a três anos de pena suspensa, depois de se considerar culpado de acusações menores de conduta obscena, por prender e molestar dois rapazes na sacristia de uma igreja da baía de São Francisco. Quando a pena terminou, em 1981, o padre pediu para deixar o sacerdócio, e a diocese submeteu a Roma os documentos para o suspender de funções.
Na primeira carta dirigida a Ratzinger, o bispo de Oakland avisava que "devolver Kiesle ao sacerdócio, causaria mais escândalo do que retirar-lhe as funções sacerdotais". Enquanto o seu destino era pesado em Roma, o padre continuou a trabalhar com jovens ao longo de grande parte dos anos 1980 até ser finalmente removido do sacerdócio em 1987. Os documentos disponíveis não indicam em que circunstâncias,nem se o cardeal Ratzinger teve algum papel na decisão.
O jornal The New York Times divulgou recentemente a informação de que o papa - quando era cardeal - e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, encobriram as ações do padre Lawrence Murphy, que abusou sexualmente de 200 menores em uma escola para surdos, no estado norte-americano de Wisconsin, onde prestou serviço de 1950 a 1970.
Amigo de João Paulo II - O Vaticano e responsáveis da Igreja Católica no Canadá tentaram manter em segredo abusos sexuais contra menores cometidos por um religioso canadense, amigo do papa João Paulo II, segundo um documento divulgado ontem. A imprensa canadense assinalou que em carta de fevereiro de 1993, o já falecido bispo canadense Joseph Windle escreveu ao então núncio apostólico no país, reverendo Carlo Curis, que estava tentando "a todo custo" que não se tornassem públicos os abusos de monsenhor Bernard Prince.
A carta foi conhecida depois que foi apresentada esta semana como uma possível prova em umprocesso civil de várias vítimas de abusos sexuais contra a diocese de Pembroke (Ontário). Na carta, o bispo Windle também recomendava que o Vaticano não promovesse Prince para evitar que as vítimas dos abusos - que estavam dispostas a não denunciar o religioso por "ser de origem polonesa" - abandonassem seu silêncio. "As consequências de tal ação seriam desastrosas não só para a Igreja canadense mas também para a Santa Sé", afirmou.
Em 2005, uma das vítimas do padre Prince foi à Polícia canadense e denunciou o religioso que, após abandonar o sacerdócio, em 2008 foi condenado a quatro anos de prisão por abusar sexualmente de 13 menores entre 1964 e 1984, pena que está cumprindo atualmente. Mas antes, Prince tinha trabalhado até 2004 no Vaticano como segundo da Sociedade Pontifical para a Propagação da Fé e recebeu o título honorífico de monsenhor.
Segundo a imprensa canadense, Prince, que tem agora 75 anos, era amigo do papa João Paulo II e no momento no qual Windle escreveu a carta acabava de ser enviado aoVaticano para ocupar um posto de responsabilidade relacionado com sociedades missionárias. Prince, que cresceu em uma área de imigrantes poloneses nas cercanias de Ottawa, era conhecido no Canadá, segundo a imprensa, como "o canal para o papa".
Na carta divulgada agora, Windle assinalava que uma das vítimas sabia "graças a um amigo de sua esposa que o padre Prince estava viajando frequentemente ao estrangeiro e tinha jantado com membros da embaixada canadense na Tailândia".
Essa vítima, que não é identificada na carta, tinha denunciado às autoridades religiosas canadenses que Prince abusou dele sexualmente quando era criança, um ano antes de o religioso ter sido enviado a Roma. Windle reconhece que posteriormente apareceram outras quatro vítimas, todas elas menores. Prince foi nomeado para o posto em Roma apesar de as autoridades do Vaticano terem sido advertidas de suas ações.
FONTE- Diário de Pernambuco
- Frasesprotestantes.blogspot.com
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