Analisando o dom de línguas ou glossolalia, O Dr. James I. Packer afirma:
A glossolalia não é, como muitas vezes se pensa (e como sugerem as traduções incorretas da NEB em 1 Coríntios 14), uma coisa extática, ou seja, um êxtase. O ato cristão de falar em línguas é feito tão objetivamente quanto qualquer outro ato de falar, enquanto a pessoa estã de plena posse e controle de sua consciência e vontade, e não em qualquer estado anormal da mente, seja ele qual for. [1]
Por isso é que precisamos resgatar os modelos bíblicos e cristocêntricos. O verdadeiro homem de Deus deve evitar a isca das novidades e permanecer firme na Palavra de Deus. A Igreja deve se fundamentar somente na mensagem bíblica, definida na Reforma com o lema Sola Scriptura.
Entendo que o erro dos evangélicos é aceitar a continuação do ofício profético tal como descrito na Escritura Sagrada. O Pentecostes foi um ato histórico singular de Deus. Ele não serve como um modelo para igreja, mas como capacitação para a igreja. Desde o Pentecostes, estamos vivendo na Era do Espírito. Assim como não existe mais necessidade para sacrifícios adicionais pelo pecado, também não há necessidade para descidas adicionais do Espírito.
Por isso não existem mais profetas como nos tempos bíblicos. A profecia foi usado pelos apóstolos para fundar a Igreja e eram necessários porque o Novo Testamento não estava completo. A função profética é hoje ocupada pela pregação bíblica.
O pastor e escritor Paulo Anglada afirmou [2]:
Sendo a Palavra escrita o meio escolhido por Deus para revelar a sua vontade ao homem, ela não pode ser dispensada, igualada, acrescentada nem suplantada. Nem o Espírito agiria em detrimento ou à parte dela, mas com e por ela. É neste sentido que as Escrituras são necessárias e indispensáveis para a comunicação das verdades necessárias à salvação. A Igreja Católica têm a tradição oral. Os reformadores radicais tinham a palavra interior. Outras denominações modernas têm novas revelações do “Espírito.” A fé reformada se fundamenta inteiramente nas Escrituras.
A minha argumentação sobre a profecia pode ser descrita como Cessacionista. Assim define Lee Irons [3]: "Cessacionismo" assim entendida a tese que alguns dons (e seus correspondentes ministérios) descritos no Novo Testamento são ordinários e perpétuos, enquanto outros eram extraordinários e foram paulatinamente desaparecendo da vida da igreja a partir do fim da era apostólica.
Porém, existe uma diferença entre os grupos cessacionistas. Alguns se posicionam como cessacionistas na base exegética, crendo que ao se completar o cânon bíblico, não houve mais a necessidade dos dons miraculosos. Outros, por sua vez, argumentam que não existe base bíblica para se sustentar o cessacionismo, porém durante o transcorrer da história eclesiástica, houve um declínio nas manifestações de tais dons.
Segue um resumo das principais pressuposições cessacionistas:
• Deus revelou sua vontade em proposições escritas na Bíblia.
• As proposições escritas na Bíblia dão uma completa revelação dos padrões morais que Deus quer que todos os cristãos obedeçam durante o período da igreja.
• Deus não concede revelações subjetivas de padrões morais presentes nas Escrituras a pessoas de maneira individual.
Richard Gaffin [4] defende a cessação de todos os dons de revelação ou de expressão verbal. Por dons de expressão verbal Gaffin entende a profecia e sua avaliação, a variedade de línguas com sua interpretação, a palavra de sabedoria e a palavra de conhecimento. Ele leva em conta a listagem em Rm 12+6-8; 1 Co 12.8-10, 28-31 e Ef 4.11.
Por fim, é importante destacar que os cessacionistas crêem nos dons espirituais. O que eles não defendem é a continuidade de todos os dons. Os milagres não cessaram. Deus continua curando em resposta as orações individuais e coletivas de Seu povo. O que eles questionam é se os dons de cura e de operação de milagres ou profecia, conforme alistados em I Coríntios 12.9-10 estão sendo outorgados hoje, como foi no passado.
Termino dizendo que a igreja necessita de pregadores, não de adivinhadores. Os pregadores devem ser servos dedicados que anunciam todo o conselho de Deus (Atos 20.27). ۩
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[1] Na dinâmica do Espírito: Uma avaliação das práticas e doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 1991, pp. 172.
[2] Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Editora Os Puritanos, 1998, pp. 25-31.
[3] Cessacionismo. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/pentecostalismo/cessacionismo_irons.htm. Visitado em 28/07/2010.
[4] GRUDEM, Wayne (org). Cessaram os dons espirituais? 4 pontos de vista. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida, 2003, p. 43-44.
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